domingo, 26 de junho de 2011

Jagunços e Heróis – Walfrido Moraes

       Certa vez um amigo me emprestou um livro que iria mudar a minha visão para o termo jagunço. Até então, jagunço para mim seria um homem terrível, sanguinário, que matava sem dó nem piedade, que não respeitava a família, nem a religião. O livro em questão é Jagunços e Heróis do escritor baiano Walfrido Moraes. Como disse o autor no prefácio à terceira edição: "Como tal, os personagens deste livro não são fictícios. Ao contrário, são personagens reais. Existiram. Viveram. Lutaram. Sofreram. Amaram e se odiaram na paisagem agreste.
       O autor se refere aos jagunços da Chapada Diamantina na Bahia, jagunços estes, que ele conheceu ainda menino, ou melhor, conviveu com eles na sua meninice. Jagunços como ele mesmo disse, "de uma bondade extrema; de uma filosofia de vida juncada de sabedoria, severidade, honradez e prudência; e de uma jovialidade e compreensão que os homens de gabinete, os estadistas, todos aqueles que, por vezes, decidem os destinos do mundo e da humanidade, precisariam, sem nenhum demérito, assimilar  e adotar."
       É assim que trata dos jagunços o autor de um dos melhores livros que eu já li na minha vida. Walfrido, fala com conhecimento de quem na infância viu, ouviu, conviveu com esses sertanejos que não tinham a leitura, que não freqüentaram escolas, na sua grande maioria, mas que sabiam como ninguém  honrar os seus compromissos, de como tratar as pessoas com respeito, de lutar, viver e morrer por seus ideais.
       Hoje, depois de ter lido o livro Jagunços e Heróis e outros do mesmo gênero, tenho a certeza que dentro daqueles homens de coragem assombrosa, batia um coração. E nesses corações havia lugar não só para as lutas, mas para as paixões, para os romances, e para o amor. Mudou radicalmente a minha visão as palavras de Walfrido Moraes, hoje sou de um pensamento: os jagunços existiram porque precisavam existir. Num tempo em que o Estado se fazia ausente e as autoridades judiciais existiam mais como figura decorativa ou com sentido absolutamente unilateral, ajustado às conveniências dos chefes locais, chefes esses que viviam nas graças do governo, com prestígio e dinheiro para comprar o que bem quisesse até mesmo a justiça.
       Foi nesse contexto, que surge Horácio de Matos. Descontente com a morte de seu irmão Vítor, um homem que não dominava a bebida, um“infeliz”, como todos diziam. A sua morte não foi investigada pelas autoridades competentes para saber quem matou ou a mando de quem aquele homem foi morto. Horácio vai do céu ao inferno num único segundo e vai querer respostas para esse assassinato tão trágico. Não encontrando resposta no judiciário nem nos homens com autoridade para tal, forma o seu bando de jagunços e vai fazer justiça com as próprias mãos. Com esse instinto de justiça, ele vai virar a Chapada Diamantina de cabeças para o chão e vai ao seu modo fazer chegar ao povo da sua terra, a justiça na qual ele acredita. Horácio de Matos vira coronel, agraciado pelo Governo, e  vira lenda na Chapada.

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