sábado, 23 de junho de 2012

O coronel negro: coronelismo e poder no norte da Chapada Diamantina (1864-1919)


Francisco Dias Coelho nasceu em Morro do Chapéu, no norte da Chapada Diamantina, ele teve de uma infância muito pobre, filho de agregados da Fazenda Gurgalha, era descendente de negros livres pelo lado paterno e de libertos pelo lado materno. A trajetória de vida de Dias Coelho coincide com as transformações pelas quais passou a região da Bahia no período compreendido entre o fim do século XIX e início do XX. Neste período, a pecuária extensiva foi substituída pelo garimpo de diamantes e posteriormente pela mineração de carbonatos, o que possibilitou o acúmulo de riqueza por parte de muitas pessoas de origem pobre, inclusive o personagem em questão. No Município de Morro do Chapéu um grupo de emergentes, enriquecidos pelo comércio de carbonatos e com aspirações políticas estabeleceram estratégias para conquistar o poder local e dominar a região. Dias Coelho era a maior expressão dessas pessoas, ascendeu econômica, social e politicamente, fundou o seu próprio grupo político, “os coquís”, e se tornou o mais influente coronel do seu tempo no sertão do médio São Francisco. O coronelismo com Dias Coelho foi exercido de forma diferente, o mandonismo, clientelismo e organização clâmica das famílias de proprietários, foi substituída pelo personalismo e a construção de uma imagem pública condizente com o que a população esperava de um governante, estas diferenças podem ser observadas no estilo de política adotado pelo mesmo. Construiu para si a imagem de bondoso, justo, diplomata e outros adjetivos que não são comuns quando se trata de coronéis do sertão baiano. Ao falecer, em 1919, havia implementado uma política diferente dos outros coronéis, era respeitado e continuadamente lembrado, porém, conviveu com o racismo presente na mentalidade das pessoas da Bahia na época.
                                                          
Moisés de Oliveira Sampaio  







 
                                                                               




O coronelismo


   


   O coronelismo foi uma experiência típica dos primeiros anos da república brasileira. De fato, essa experiência faz parte de um processo de longa duração que envolve aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais do Brasil. A construção de uma sociedade vinculada com bases na produção agrícola latifundiária, desde os tempos da colônia, poderia contar como um dos fatos históricos responsáveis pelo aparecimento do chamado “coronel”. 
  No período regencial, a incidência de levantes e revoltas contra a nova ordem política instituída concedeu uma ampliação de poderes nas mãos dos proprietários de terra. A criação da Guarda Nacional buscou reformular os quadros militares do país através da exclusão de soldados e oficiais que não fossem fiéis ao império. Os grandes proprietários recebiam a patente de coronel para assim recrutarem pessoas que fossem alinhadas ao interesse do governo e das elites. 
   Com o fim da República da Espada, as oligarquias agro-exportadoras do Brasil ganharam mais espaço nas instituições políticas da nação. Dessa maneira, o jogo de interesses envolvendo os grandes proprietários e a manutenção da ordem social ganhava maior relevância. Os pilares da exclusão política e o controle dos grandes espaços de representação política sustentavam-se na ação dos coronéis. 
   Na esfera local, os coronéis utilizavam das forças policias para a manutenção da ordem. Além disso, essas mesmas milícias atendiam aos seus interesses particulares. Em uma sociedade em que o espaço rural era o grande palco das decisões políticas, o controle das polícias fazia do coronel uma autoridade quase inquestionável. Durantes as eleições, os favores e ameaças tornavam-se instrumentos de retaliação da democracia no país. 
   Qualquer pessoa que se negasse a votar no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou perseguição pessoal. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos se consolidassem no poder. Com isso, os processos eleitorais no início da era republicana eram sinônimos de corrupção e conflito. O controle do processo eleitoral por meio de tais práticas ficou conhecido como “voto de cabresto”. 
  Essa falta de autonomia política integrava uns processos onde deputados, governadores e presidentes se perpetuavam em seus cargos. Os hábitos políticos dessa época como a chamada “política dos governadores” e a política do “café-com-leite” só poderiam ser possíveis por meio da ação coronelista. Mesmo agindo de forma hegemônica na República Oligárquica, o coronelismo tornou-se um traço da cultura política que perdeu espaço com a modernização dos espaços urbanos e a ascensão de novos grupos sociais, na década de 1920 e 1930. 
   Apesar do desaparecimento dos coronéis, podemos constatar que algumas de suas práticas se fazem presentes na cultura política do nosso país. A troca de favores entre chefes de partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como o poder econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes políticos.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola