quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Governo assina acordo de paz com coroneis da Bahia (1920)

      
       Na República Velha, era imenso o poder dos chefes políticos regionais, que comandavam a ferro e fogo a vida dos municípios do interior. Os chamados “coronéis” detinham o poder absoluto nas suas áreas de influência. Quando enfrentavam resistências em baixo, costumavam reprimir violentamente os que ousavam desafiar suas ordens. Quando não gostavam das determinações vindas de cima, não hesitavam em desafiá-las. Foi o que fizeram os “coronéis” do vale do São Francisco, na Bahia, no início de 1920. Inimigos do governador J. J. Seabra, rebelaram-se contra ele, formando um exército de jagunços que ocupou dezenas de municípios do sertão e interrompeu a navegação no Velho Chico. O governador foi obrigado a recuar. Os detalhes do acordo assinado em 3 de março de 1920 entre o governo federal e os “coronéis” não deixam dúvidas sobre quem venceu a parada: os revoltosos são anistiados e mantêm armas, munições e o controle dos municípios ocupados. Garantem, além disso, vagas de deputados para seus afilhados.
 Detalhes do acordo:

1º) O Coronel Horácio de Matos não entregará as suas armas e munições;
2º) Conservará a posse dos doze municípios, que ocupou, reconhecendo o Governo as autoridades por ele, Horácio, nomeadas;
3º) Serão conservadas, em qualquer hipótese, uma vaga de deputado estadual e outra de federal para o Coronel Horácio eleger os seus candidatos;
4º) Retirarão de Campestre o Coronel Fabrício e seus amigos, com a proibição de ali voltarem;
5º) Retirarão de Lençóis, nas mesmas condições, o Senador César de Sá e seus amigos,
6º) O Coronel Horácio de Matos não apoiará o Dr. Seabra, continuando a ser oposicionista;
7º) Não haverá, para o Coronel Horácio de Matos e seus amigos, nenhuma responsabilidade, civil e criminal, pelos atos de revolução.
* * *
10º) Não resultar do movimento revolucionário da zona do S. Francisco nenhuma responsabilidade civil ou criminal por ato ou fato praticado pelos revolucionários, inclusive o aprisionamento dos vapores da empresa estadual Viação do S. Francisco;
20º) Seja quem for o governador da Bahia, terá que entregar, sob o patrocínio do comando da Região Militar desse Estado, a direção político-administrativa dos municípios de Remanso, Casa Nova e Xiquexique aos revolucionários seus atuais ocupantes e dirigentes, que terão como seu representante político o Coronel Anfilófio Castelo Branco;
30º) Apesar de ser unânime o Município de Santa Rita do Rio Preto ao lado do Coronel Abílio Rodrigues de Araújo, ficará, para qualquer governo, este chefe revolucionário como responsável pelos destinos políticos daquele município;
40º) Não poderão voltar às respectivas localidades as autoridades depostas e pessoas outras expulsas pelos revolucionários, a bem da paz e tranqüilidade futuras da zona do S. Francisco;
50º) Fornecerá a região militar da Bahia todas as garantias necessárias para o Dr. Cordeiro de Miranda ir à capital do Estado.
Em compensação, os chefes revolucionários obrigam-se a:


1º) Paralisar completamente o movimento revolucionário da zona do S. Francisco;
2º) Fazer voltar aos seus lares, para o seu trabalho cotidiano, os seus amigos que compõem o exército libertador da zona do S. Francisco;
3º) Entregar aos emissários do general comandante da região todos os vapores da Empresa Fluvial do S. Francisco, que se acham aprisionados pelos revolucionários, com o respectivo carregamento, segundo o manifesto assinado pelo comandante de cada navio;
4º) Acatar e respeitar o futuro governo da Bahia, vendo nele a pessoa do Presidente da República, representada pelo General Cardoso de Aguiar, muito digno Interventor Federal no Estado da Bahia.
Remanso, 3 de março de 1920.

Manifesto assinado por:
Pelo Município de Remanso, Anfilófio Castelo Branco - pelo Município de Casa Nova, Lindolfo de Sousa Estrela - pelo Município de Xiquexique, B. Rosalvo Teixeira da Rocha - pelo Município de Santa Rita do Rio Preto, Abílio Rodrigues de Araújo - pelo General Comandante da Região Militar, Capitão Moisés Alves da Silva, Primeiro-Tenente Alexandrino da Luz.”

Retirado do site: http://franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=governo-assina-acordo-de-paz-com-coroneis-da-bahia-1920