domingo, 18 de dezembro de 2011

A Guerra de Canudos: Coronéis X População

          O cenário era a Bahia do século XIX, quem governava o Brasil era Prudente de Morais. O Nordeste brasileiro serviu de palco para que ocorresse uma das mais significativas revoltas sociais da primeira República.
          A rebelião conhecida como Guerra de Canudos deu-se em virtude da situação precária em que vivia a população, sem terra e obrigada a se submeter aos arroubos dos coronéis. As terras pertenciam aos grandes proprietários rurais – os conhecidos coronéis – que as transformaram em territórios improdutivos. Essa situação revoltou os sertanejos, que se uniram em torno de Antônio Conselheiro, o qual pregava ser um emissário de Deus vindo para abolir as desigualdades sociais e as perversidades da República, como a exigência de se pagar impostos, por exemplo.
          Os moradores do arraial acreditavam ser ele um divino mestre, que já praticara até milagres. Antônio Conselheiro fundou o vilarejo denominado Canudos e os sertanejos e suas famílias para lá passaram a migrar. Vários fatores contribuíram para o desenvolvimento de Canudos. O clima seco castigava severamente a região, danificando o plantio de alimentos, secando os diques e matando os animais que não resistiam à falta de água. Os sertanejos também tentavam sobreviver, mas a cada ano milhares morriam de fome e sede. A maneira tão desumana de viver estimulava o surgimento de desordens e agitações sociais, transformando os camponeses em malfeitores que andavam em bandos pelos sertões do Nordeste, fortemente armados, apavorando as populações locais e invadindo as propriedades dos coronéis.
          Antônio Conselheiro, entre outros devotos, propagava a salvação da alma e o povo tinha fé que seu messias os ajudariam a sair daquela situação precária. A igreja começou a perder seus fiéis para um falso religioso, na concepção do governo, e assim ele passou a ser malquisto pela Igreja. No ano de 1896, o arraial contava com mais ou menos 20 mil sertanejos que repartiam tudo entre si, negociando o excesso com as cidades vizinhas, adquirindo assim os bens e produtos que não eram gerados no local.
Mulheres e crianças: prisioneiros da Guerra de Canudos
Mulheres e crianças: prisioneiros da Guerra de Canudos

          Os habitantes de Canudos precisavam se resguardar e decidiram então organizar milícias armadas, pois era de se esperar uma reação contrária da parte dos coronéis e da Igreja Católica. Enquanto a igreja perdia seus fiéis, os coronéis sentiam-se prejudicados com o constante deslocamento de mão-de-obra para Canudos, que prosperava a olhos vistos. A população abandonou a sociedade republicana convencional, que até então só a alimentara de falsas promessas, e partiu para na direção da nova sociedade que despontava. Mesmo sem nenhuma garantia, pois não havia falsas promessas, o que era mais honesto. Os padres e coronéis coagiram o governador da Bahia a tomar providências urgentes, eles queriam que o governo desse fim a Canudos. Os jornalistas e intelectuais também eram contra os moradores do arraial, pois entendiam que os mesmos desejavam a volta da monarquia, algo totalmente fora de propósito.

A Destruição de Canudos

          Foram instituídas três empreitadas militares, que foram vencidas pelos seguidores de Antônio Conselheiro. Em virtude de tamanha dificuldade, o Governo Federal assumiu o comando. A quarta expedição foi organizada pelo então ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, o qual recrutou cerca de 10 mil homens que, comandados pelo general Artur Costa, apoderaram-se de Canudos e promoveram um terrível massacre, no qual muita gente inocente morreu, principalmente idosos e crianças, que só buscavam uma melhor qualidade de vida. A Comunidade de Canudos foi arrasada no dia 05 de outubro de 1897, entrando para a história como o palco do mais intenso massacre já presenciado na história.


Emancipação de Itabuna

          Em 1905 ao assinar uma petição, enviada à Câmara dos Deputados da Bahia, pedindo a elevação do distrito de Tabocas à condição de município independente. firmino alves
Acompanhada de documentação sobre a situação econômica e populacional, a petição com assinaturas dos moradores mais ilustres do distrito foi encaminhada para Salvador no dia 2 de junho de 1905.
O documento informava que o distrito contava com cerca de quatro mil habitantes e que a arrecadação local girava em torno de mais de 60 contos de réis.
      Os líderes do movimento informaram que, por falta de recenseamento, não poderiam saber ao certo a porcentagem da população adulta, mas era pelo menos 10% dos moradores.
      O grupo liderado pelo coronel José Firmino Alves (foto) informou às autoridades da Bahia que o distrito contava com 797 propriedades de “mais importância”, sendo 136 casas comerciais.                                                                  
      Existiam no distrito de Tabocas 661 residências particulares de “mais importância” (com melhor estrutura, ocupadas pelos comerciantes, grandes fazendeiros e seus parentes). Havia ainda várias praças e dezenas de ruas, sendo 18 delas principais.
     

Orçamento
     

          Junto com a petição enviada aos deputados, foi juntado um exemplar da Lei 2, de 23 de outubro de 1904. Na lei estava previsto o Orçamento Municipal para o exercício de 1905. Ela foi apresentada pelo intendente tenente-coronel Domingos Adami de Sá e decretada pelo Conselho Municipal de Ilhéus, que tinha o domínio sobre Tabocas. Estava previsto que naquele ano Ilhéus teria uma receita de 140 contos e 568 réis. O rendimento a ser produzido pelo 3º distrito (Tabocas) era da ordem de 60 contos de réis. Foi juntada ainda a certidão da Mesa de Rendas da Cidade de Ilhéus, de 31 de maio de 1905.
        Firmino Alves informava na petição que, para o funcionamento do governo local, ele cederia imóveis para instalação da sessão do júri (justiça local) e cadeia. Os prédios seriam emprestados por quanto tempo fosse necessário. Foi requisitado ainda que o governo do estado doasse ao novo município os terrenos devolutos.
     

Contra
     

           O movimento pela emancipação política encontrou resistência do coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva, que era opositor de Domingos Adami de Sá e líder regional de José Firmino Alves. “Considero um ato de rebeldia e falta de disciplina partidária o que fez o senhor, pedindo ao governado José Marcelino a separação de Tabocas”, teria afirmado ao coronel Firmino Alves.
         Antônio Pessoa seguiu afirmando que “não concordarei nunca com semelhante ato, mesmo porque Tabocas não tem condições sociais para se transformar num município autônomo, separando-se de Ilhéus!”
       O relato é do historiador Adelindo Kfoury Silva, em seu livro Itabuna Minha Terra! De acordo com ele, Firmino Alves rebateu afirmando: “Estou cumprindo a vontade do povo de Tabocas como seu representante numa aspiração de dirigir os destinos da sua própria terra. Toda vez que um povo se compenetra de que precisa de sua liberdade, sabe o que quer e sabe para onde vai...”
      Após muita disputa de bastidores, a emancipação de Tabocas ocorreu em 1910, quando o senador Arlindo Leone, em conjunto com os senadores Batista de Oliveira e João Dantas, assinou o Projeto número 8, propondo a elevação de Itabuna à categoria de cidade.
      O documento, escrito de próprio punho, foi enviado no mesmo dia para a Comissão de Justiça e recebeu parecer favorável. 
      Depois de passar pela Câmara dos Deputados, seguindo os trâmites normais, subiu para o governador João Ferreira de Araújo Pinho que, sem vetos, no dia 28 de julho de 1910 sancionou a lei.


http://www2.uol.com.br/aregiao/art/hist/emancipa1905.htm

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Francisco Dias Coelho, o coronel negro

          Era filho de negros  forros, Quintino Dias Coelho e Maria da Conceição Coelho, ligados ao Major Pedro Celestino Barbosa, chefe político da cidade de Morro do Chapéu, na época, próspero centro minerador na Bahia.
          Trabalha na farmácia do padrinho, onde aprende a ler e contar; após receber do Major como presente a patente de alferes da Guarda Nacional, dedica-se ao comércio de diamantes, a partir dos 24 anos de idade. Ao conquistar fortuna ocupa também funções públicas como o tabelionato de notas e, depois, o Cartório de Hipotecas, acumulando ambos. Casou-se com Maria Umbelina de Oliveira Coelho, sem filhos; entretanto, do relacionamento com Vicentina C. de Amorim, uma mulata, foi pai de Deusdedit Dias Coelho, que veio a tornar-se médico em 1917.
          Em sua farmácia acolhe o então jovem Horácio de Matos, como aprendiz,  a quem presenteia com a patente de Coronel da Guarda Nacional. Horácio veio mais tarde, a se tornar num dos principais representantes do coronelismo brasileiro, e sua morte assinalou o fim deste período no país.
          Na cidade natal Dias Coelho foi fundador e principal incentivador do Grêmio Literário, em 5 de outubro de 1902, composto de filarmônica, teatro e biblioteca. Em 1914 torna-se intendente da cidade, cargo que exercia quando faleceu, em 1919.

Intendente de Morro do Chapéu
   
          Como intendente da cidade de Morro do Chapéu, Dias Coelho, dentre outras realizações, reformou a Casa da Câmara, e outros edifícios públicos como a Cadeia, o Hospício dos Órfãos, o Cemitério e outros. Realizou a iluminação pública, calçamento e a ponte que leva seu nome sobre o rio Jacuípe. Quando faleceu deixou nos cofres públicos um saldo de doze contos de Réis.

dc149.4shared.com
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Dias_Coelho

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quem é Renato Bandeira?

       E por falar em Renato Bandeira, ontem, dia 29 de novembro, ao sair da UNEB em Seabra, passei no restaurante do Hotel Chapada e me deparei com o escritor e historiador Renato Luís Bandeira sentado em uma mesa fazendo anotações. Fui até ele, me apresentei, já tinha estado com ele antes em outra ocasião e ele lembrou. Conversa vai, conversa vem, ele falando do novo livro que vai ser lançado sobre o coronelismo na Bahia, falando de fatos ocorridos em Piatã e Abaíra, e o tempo passou, ficou tarde e tive que pegar a estrada, que pena. Renato Bandeira é daquelas pessoas que você tem prazer em vê-lo falar de História, sabe tudo sobre a história na Chapada Diamantina, a ocupação, sobre os mineradores, o início da colonização na Chapada, enfim, sabe tudo de História. Um pouco do grande Renato Bandeira para vocês.
                     
                                            
Alguns de seus livros sobre a Chapada Diamantina          


Renato Luís Sapucaia Bandeira é descendente da tradicional família Bandeira da Bahia.
Desde cedo, ainda na adolescência, quando estudante nos Colégios Maristas e Antônio Vieira, interessava-se pela história e a cultura de modo geral. A partir de 1971, trilhou pelos caminhos da ufologia e acabou por aportar no tema arqueológico, dedicando-se inteiramente à pesquisa de uma civilização antiqüíssima perdida no sertão baiano, transportando-o definitivamente para a região da Chapada Diamantina. Nesta região fundou o jornal Correio da Chapada (1989), Revista Municípios da Bahia (2002), desenvolveu trabalhos na área da espeleologia quando diretor do SBE-BA. Realizou exaustivamente pesquisa histórica com remanescentes que se envolveram no conflito com os revoltosos da Coluna Prestes, resultando na participação de documentário para TVE sobre o tema. Foi Secretario de Turismo e Meio Ambiente em Jussiape promovendo expedições exploratórias no município, as quais, foram documentadas para o programa Esporte Radical da TV.
Proferiu diversas palestras voltadas para a historiografia baiana escrevendo vários livros, inclusive infantis, além de produzir revistas políticas e turísticas. Produziu também pioneiramente e de forma inédita mapa turístico da Chapada Diamantina sobre imagem de satélite e, ainda, cedeu dezenas de entrevistas para jornais e revistas da capital, além de contribuir com seus artigos assinados nos mais variados temas. 
É sócio efetivo do Instituto Geográfico da Bahia desde 1985, presidente da Academia de Letras e Artes da Chapada Diamantina e, recentemente, integrou a Casa do Escritor Baiano.
Como jornalista e editor manteve ativo o periódico Correio da Chapada por 22 anos veiculando artigos de interesse diversos, sobretudo, voltado para a história.
Atualmente residindo em Nova Redenção, Renato Bandeira ao tempo que escreve novas obras, se envolve com a criação do seu Instituto Histórico e Científico  Chapada Diamantina, que passa a ser doravante, a sua menina dos olhos.

http://wwwrenatobandeira.blogspot.com/

                                                        
                                                                                 Renato Bandeira

A Coluna Prestes Passou em Abaíra -Ba

Em Catolés, município de Abaíra, um grupo de revoltosos subiu a Serra da Tromba, vindo de Inúbia e desce a ladeira da vila levando o terror para o seio da pacata sociedade catoleense. Renato Luís Bandeira fala sobre isso no livro Chapada Diamantina, História, Riquezas e Encantos:

Em Catolés, no município de Abaíra, quando um grupo de revoltosos entrou na vila atirando a esmo, atingiu logo na entrada da rua de Baixo a porta da casa que pertencia à velha Maria Rita, mãe do popular Medrado. Nesse exato momento, passava pelo local o jovem Francisco Alves, que, em depoimento cedido ao autor em 1985, afirmou que a patrulha ao entrar em Catolés, estava composta de 23 ou 24 revoltosos... BANDEIRA, 1998, p.72/74.

Ainda no município de Abaíra, há relatos que na vila de Curralinho, o grosso da Coluna, inclusive Prestes, Miguel Costa e outros de maiores patentes, ficaram “hospedados” numa casa da localidade, esperando o Rio Água Suja baixar suas águas para que pudessem atravessar para o outro lado rumo ao município de Rio de Contas. Essa informação foram checadas e confirmadas com moradores mais velhos e com parentes de moradores que passaram a vida toda contando os momentos de medo e apreensão vividos naquela época. Inclusive confirmado que o comandante Prestes fez questão de pagar a hospedagem.

Obs: Esse texto, é parte integrante de um artigo científico escrito pelo autor do Blog para o curso de História da Uneb.


  Renato Bandeira, autor de muitos livros sobre a Chapada e sobre o coronelismo , em Catolés, Abaíra -Ba onde residiu por anos. 

sábado, 12 de novembro de 2011

O Cangaço segundo Walfrido Morais

Vejamos o que diz Walfrido morais sobre jagunços, no seu "Jagunços e Heróis"

"Não se confunda, aliás, o jagunço com o bandoleiro ou o cangaçeiro. Não obstante a capacidade de luta e a coragem inolvidável de uns e outros, temos de convir que, enquanto o primeiro foi um homem de trabalho, entregue à pastorícia, à lavoura ou ao garimpo, raramente mercenário profissional, pegando em armas coletivamente somente quando uma causa social ou política estava em jogo dentro dos limites do seu universo, o segundo, apesar de, vezes não raras, ser igualmente uma vítima das espoliações e das injustiças e fruto de uma revolta incontestável, entregava-se desenfreadamente à prática do crime, do assalto e do saque aqui e alhures, cobrando de uns aquilo que outros lhe tomaram ou lhe negaram, numa espécie dolorosa de vingança contra o mundo"

MORAIS, Walfrido. Jagunços e Heróis – A Civilização do Diamante nas Lavras Diamantina da Bahia. Civilização Brasileira, 1963.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O cangaço e o poder dos coronéis


As relações entre os cangaceiros e os coronéis
Durante a República Velha as oligarquias rurais mantiveram sob sua tutela praticamente todo o domínio político do Brasil, entretanto, o poder do coronel encontra suas origens ainda durante a Colônia, quando a Coroa se valia dos proprietários para manter o controle sobre as regiões mais ermas. Por este motivo conferiu-se a estes homens poderes políticos e militares, atuando como representantes da Coroa em suas regiões. Não demorou muito para que estes indivíduos se fortalecessem e se transformassem em líderes políticos autoritários e de grande influência local.
A denominação “coronel” veio com a criação da Guarda Nacional, em 1831, que conferiu aos chefes locais das antigas Ordenanças tal título. Mesmo após a extinção da Guarda, o uso desta alcunha permaneceu e o poder daqueles que a carregavam não sofreu nenhuma alteração, ao contrário, foi se intensificando ainda mais com o passar do tempo, atingindo seu auge na República Velha.
Neste período, a política nacional era determinada pelos coronéis, que apesar de não se envolverem diretamente, usavam a sua influência para fazer com que as decisões do poder público se direcionassem a favor de seus interesses. Além disso, era comum que os funcionários públicos fossem escolhidos pelos grandes proprietários, seguindo um critério de confiança pessoal, numa atitude que manifesta o caráter particularista, voltado para as vontades particulares, da política coronelista da República Velha.
Foi justamente no contexto do apogeu do poder do coronelato, quando esta elite exercia com maior veemência sua autoridade e seu autoritarismo, que surgiram os grupos de cangaceiros. Neste sentido, o cangaceirismo ganhou corpo a partir da rebelião de muitos sertanejos que haviam sido vítimas de desmandos, perseguições, humilhações e violência dos poderosos coronéis locais. O banditismo se configurava para essas pessoas como a única oportunidade de se fazer justiça e de fugir da precariedade e da miséria a que estavam condenadas por uma sociedade marcada pela desigualdade.
            Porém, o movimento que se iniciou como contrário à dominação do coronelato em pouco tempo acabou sendo por ele cooptado. Associando-se aos potentados regionais, os cangaceiros tinham a garantia de um local seguro para se esconder da polícia e para se abastecer de alimentos e armamentos. Os fazendeiros que davam proteção aos cangaceiros ficaram conhecidos como “coiteiros”.
            A constituição de uma rede de coiteiros foi fundamental para a sobrevivência dos bandos. Nos momentos em que se encontravam mais fragilizados, famintos, feridos e sem possibilidade de continuar fugindo do cerco policial pela caatinga, era com a ajuda dos coiteiros que os cangaceiros poderiam se recuperar, restabelecer as forças sem serem incomodados pelas tropas volantes e, assim, prolongar a existência do grupo.
            Mesmo Lampião, o mais célebre dos cangaceiros, precisava do auxílio de coiteiros, grandes responsáveis pela longevidade de seu bando;
“O sucesso de Lampião apoiava-se na rede de coiteiros e no abastecimento constante de armas. Sustentava-se pelo suborno e pelos tratos entre o cangaço e o coronelismo, que definiam zonas livres de perseguição e indicavam áreas onde os cangaceiros podiam cometer seus assaltos. Essas áreas pertenciam naturalmente ao ‘território inimigo’, redutos de políticos ou famílias contrárias aos protetores de Lampião.”
            Por outro lado, os coronéis também se beneficiavam com as alianças que estabeleciam com os cangaceiros, que em troca do “acoitamento” se colocavam a serviço do potentado, agindo como uma espécie de milícia. Os latifundiários se valiam dos cangaceiros para empreender ações cujo objetivo era a disciplinarização de seus agregados e a intimidação de seus inimigos políticos. Sob esta perspectiva, os cangaceiros tinham a função de mantenedores da ordem social vigente, garantindo o controle do coronel sobre a população pobre e sobre a política local.
            A partir disso nota-se que o cangaceirismo não se tratava de uma forma de contestação das estruturas sociais baseadas no latifúndio, mas fazia parte deste sistema, era mais um instrumento de afirmação do poder do coronelato e de dominação:
“Nas áreas governadas por proprietários de terras pré-capitalistas, o jogo político lança mão das rivalidades e relações das principais famílias e de seus respectivos seguidores e clientes. Em última análise, o poder e a influência do chefe de tal família repousa no número de homens que ele tem a seu serviço, oferecendo proteção e recebendo, em troca, aquela lealdade e aquela dependência que são a medida de seu prestígio e, conseqüentemente, de sua capacidade de estabelecer alianças: comanda assim as lutas armadas, as eleições ou que mais determina o poder local.”
            De fato, cangaceiros e coronéis estabeleceram uma relação de certa forma simbiótica, na qual os potentados usavam o apoio dos bandoleiros para reafirmar seu domínio e fortalecer seu poder, enquanto os cangaceiros necessitavam dessas alianças para continuar sobrevivendo, aproveitando-se da segurança que elas podiam oferecer.
            Observa-se que essa acomodação de interesses, expressa por uma convivência em certa medida amistosa, revela justamente o contrário do que o mito do cangaço pressupõe: os grupos de cangaceiros não agiam com o objetivo de contestar a ordem social estabelecida, suas ações não eram protestos contra o latifúndio e o sistema coronelista, mas, e primeiro lugar, uma estratégia de sobrevivência, uma maneira de fugir das imposições da seca, da fome e da miséria.
 Em segundo lugar, eram atos de vingança pessoal, pois neste sentido os cangaceiros:
“São menos desagravadores de ofensas do que vingadores e aplicadores da força; não são vistos como agentes de Justiça, e sim como homens que provam que até mesmo os fracos e pobres podem ser terríveis.”
Analisando esse ponto é possível perceber uma tentativa de imposição de um poder análogo ao poder dos coronéis, mas que em nenhum momento pretende questioná-lo ou derrubá-lo, ao contrário, apóia-se nele para se estabelecer e para permanecer funcionando. Tal poder se refere àquele que se baseia na força e na “macheza” e do qual os latifundiários também lançam mão para impor seu domínio.
Sob esta ótica, observa-se que se para os coronéis a violência é uma maneira eficaz de manter sob controle os sertanejos pobres e se sobrepor a seus rivais nas questões políticas, para os cangaceiros esta mesma violência é um instrumento para fazer justiça, na medida em que seu conceito de justiça está diretamente vinculado à “lei do mais forte”:
“A justiça baseia-se na força – as leis do país são uma abstração na caatinga. Essa força, ao ser exibida, prestigia quem manda, pois ressalta a ‘macheza’ do mandante. Por sua vez, ao executar as ordens, distribuindo surras e provocando mortes, o cangaceiro cresce no conceito popular, pois demonstra que também é macho.”
Esse tipo de idéia de justiça e de lei demonstra a ausência do Estado no sertão do Nordeste, dando margem para o fortalecimento dos coronéis e para a aplicação indiscriminada do seu poder, cujo mecanismo básico é a perpretação da violência através de seus capangas, entre eles os cangaceiros. Dessa forma, a aliança entre cangaceiros e coronéis promove a consolidação de um poder muitas vezes alheio ás determinações do Estado, que institucionaliza a violência tanto dos potentados quanto dos bandoleiros.
Diante da análise de tais elementos considera-se que as articulações entre o cangaço e o coronelato foram fundamentais para a afirmação de ambos os lados. Sob esta perspectiva, percebe-se que o mito do “bom cangaceiro”, que age em favor dos pobres, lutando contra o sistema e tirando dos ricos para dar aos mais humildes não se sustenta. O que ocorria de fato era uma tentativa dos cangaceiros de atender aos próprios interesses, de dar vazão a suas indignações e de garantir sua sobrevivência.
Realmente, as condições sociais injustas, o autoritarismo dos potentados e a miséria na qual estavam submersos fomentaram o espírito de revolta dos cangaceiros, entretanto, este não tomou a forma de revolta social. O que se via na verdade era a opressão do sertanejo pobre por indivíduos da mesma origem, agindo em nome dos poderosos, colaborando para a manutenção de uma estrutura de exploração da qual eles mesmos haviam sido vítimas.
Lampião e seu bando degolados e expostos em praça pública



sábado, 24 de setembro de 2011

O fim trágico do Coronel Militão Rodrigues Coelho

Coronel Militão e amigos em visita a cidade de Xique-Xique-BA em 1912, juntamente com o seu filho Nestor Coelho o terceiro da esquerda para a direita

       O coronel Militão Rodrigues Coelho teve uma vida inteira de lutas. Foi intendente de Brotas e de Barra do Mendes e comandou um exército de jagunços. Após uma vida inteira de lutas, glória e poder, não aceitava a derrota imposta por Horácio de Matos, sobrinho do seu maior desafeto, Clementino Matos. Nos últimos meses de vida, se manteve recluso no exílio. Dentro de um quarto, não aceitava nenhum tipo de comida, só café e cigarro. A sua morte por inanição ocorreu no dia 8 de Dezembro de 1919, justamente no dia da Padroeira da sua querida Barra do Mendes, Nossa Senhora da Conceição.  Seus restos mortais jazem submersos nas águas turvas da barragem do Sobradinho.

O sertão que eu conhecí (2a ed. 1985) – Claudionor Oliveira Queiróz

Militão X Família Matos

                                     
  Coronel MilitãoRodrigues Coelho, inimigo n° 1 da família Matos
      
       O ponto de partida para as desavenças entre Militão e a família Matos foi quando, em 1896, um jagunço do Coronel Clementino Pereira de Matos, chamado “Antônio da Jumenta”, depois de uma horrível bebedeira, insultou Militão e acabou levando uma surra de facão. Depois disso, Militão armou várias emboscadas para os jagunços de Clementino. Depois de exercer o poder total em Barra do Mendes, Militão desejava conquistar Brotas. Com a morte do Coronel José João, o cargo de Intendente (equivalia a prefeito) havia ficado vago, então ele juntou um exército e marchou para lá (1913). Foi interceptado por Horácio que o desencorajou a invadir a cidade, argumentando que um ataque de surpresa geraria antipatia e aversão das famílias brotenses ao chefe de Barra do Mendes.
       Militão Rodrigues Coelho dominava Barra do Mendes. Na segunda tentativa que fez, ele conseguiu tomar Brotas de assalto e se estabeleceu lá como chefe, “fazendo e acontecendo”, não querendo abrir mão do poder sob hipótese alguma. Isso deixava irados seus inimigos, principalmente os Matos, que não haviam esquecido as emboscadas preparadas por ele a Clementino e seus jagunços. A situação era tensa, e o confronto, inevitável. Os dois lados se prepararam, até que Horácio invadiu Brotas e depôs Militão pela força das armas, assumindo o poder.

Chapada Diamantina: História, riquezas e encantos (2a edição) – Renato Luís Bandeira / Onavlis Editora
     

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A morte do coronel Horácio Matos

                       liandroantiques | CORONEL HORÁCIO DE MATTOS
Retrato pintura do coronel Horácio Matos


      
       A Revolução, tão logo desarmou o sertão, manda prender os chefes, e Horácio de Matos é feito prisioneiro a 30 de dezembro de 1930. Sem resistência, e levado preso a Salvador pelo tenente Hamilton Pompa. É solto condicionalmente, por não existir contra si culpa formada. Irado com a soltura do coronel, o jovem tenente Hamilton, segue para o Palácio do Rio Branco, disposto a matar o responsável pela soltura de Horácio mas acaba sendo assassinado por um guarda. Na noite de 15 de maio de 1931, Horácio sai para passear no centro da capital baiana com a filha Horacina de seis anos de idade. O agente policial Vicente Dias dos Santos o aguarda. Diante de testemunhas, alveja o coronel, caudilho da Chapada, Governador dos Sertões. Três tiros pelas costas. Morre Horácio de Matos, o maior dos coronéis da Bahia.  Pelo crime, o assassino é absolvido. Não revela seus mandantes. Pouco depois de ser solto sofre um atentado, do qual escapa. Entretanto, morre pouco depois, misteriosamente. Registrou Claudionor Queiroz: "Dizem que Vicente morreu de feitiço!..." Com a morte do coronel Horácio  Matos também morre o coronelismo no Brasil.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Jagunços ou Heróis?

Grupo de jagunços

       Região marcada por grandes diferenças sociais e concentração de renda, a Chapada Diamantina foi, da segunda metade do século XIX até década de 1930, um barril de pólvora comandado por poderosos coronéis. As tradicionais famílias proprietárias de terra davam abrigo e emprego para os colonos e exploradores a procura de riquezas, e em troca conquistavam a gratidão e fidelidade dessas pessoas. Formaram-se assim verdadeiros exércitos de jagunços disposto a defender com a própria vida os interesses dos patrões.
       As divergências entre coronéis levaram à criação de dois partidos políticos que, mais que uma posição ideológica, representavam uma escolha social. Os liberais e conservadores (ou pinguelas e mandiocas, apelidos dados a um pelo outro) dividiam-se em tudo, do uso obrigatório da cor-símbolo do partido à formação de duas orquestras filarmônicas que disputam as atenções nas festas populares.
       As mudanças da transição do Império para a República, ainda que chegando com certo atraso à região, acirraram ainda mais a tensão política dos grupos rivais. A tentativa de centralização do poder em um governo federal (e a consequente perda de influência na política local) e a abolição da escravatura foram mudanças que assustaram a política conservadora local.
       Com a morte do coronel Felisberto Augusto de Sá em 1896, acirraram-se as disputas pelo poder na região. Os coronéis Felisberto Sá e Heliodoro de Paula Ribeiro travaram, através de seus jagunços, uma verdadeira guerra na região. O seqüestro do filho de Felisberto, Francisco Sá, agravou a disputa, que só terminou com a intervenção do governador baiano.
       Um período de relativa paz marcou a passagem de comando dos coronéis a seus sucessores. Horácio de Matos, sobrinho de Clementino de Matos (outro coronel), é chamado para assumir as áreas do tio e propõe paz entre as famílias. Um curioso início de carreira para o homem que, após violentas batalhas contra a Coluna Prestes, seria definitivamente considerado o coronel mais temido e respeitado da Chapada.

Créditos: Carlos F. d'Andréa

Texto retirado do site:

http://www.cidadeshistoricas.art.br/hac/hist_05_p.php

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Governo assina acordo de paz com coroneis da Bahia (1920)

      
       Na República Velha, era imenso o poder dos chefes políticos regionais, que comandavam a ferro e fogo a vida dos municípios do interior. Os chamados “coronéis” detinham o poder absoluto nas suas áreas de influência. Quando enfrentavam resistências em baixo, costumavam reprimir violentamente os que ousavam desafiar suas ordens. Quando não gostavam das determinações vindas de cima, não hesitavam em desafiá-las. Foi o que fizeram os “coronéis” do vale do São Francisco, na Bahia, no início de 1920. Inimigos do governador J. J. Seabra, rebelaram-se contra ele, formando um exército de jagunços que ocupou dezenas de municípios do sertão e interrompeu a navegação no Velho Chico. O governador foi obrigado a recuar. Os detalhes do acordo assinado em 3 de março de 1920 entre o governo federal e os “coronéis” não deixam dúvidas sobre quem venceu a parada: os revoltosos são anistiados e mantêm armas, munições e o controle dos municípios ocupados. Garantem, além disso, vagas de deputados para seus afilhados.
 Detalhes do acordo:

1º) O Coronel Horácio de Matos não entregará as suas armas e munições;
2º) Conservará a posse dos doze municípios, que ocupou, reconhecendo o Governo as autoridades por ele, Horácio, nomeadas;
3º) Serão conservadas, em qualquer hipótese, uma vaga de deputado estadual e outra de federal para o Coronel Horácio eleger os seus candidatos;
4º) Retirarão de Campestre o Coronel Fabrício e seus amigos, com a proibição de ali voltarem;
5º) Retirarão de Lençóis, nas mesmas condições, o Senador César de Sá e seus amigos,
6º) O Coronel Horácio de Matos não apoiará o Dr. Seabra, continuando a ser oposicionista;
7º) Não haverá, para o Coronel Horácio de Matos e seus amigos, nenhuma responsabilidade, civil e criminal, pelos atos de revolução.
* * *
10º) Não resultar do movimento revolucionário da zona do S. Francisco nenhuma responsabilidade civil ou criminal por ato ou fato praticado pelos revolucionários, inclusive o aprisionamento dos vapores da empresa estadual Viação do S. Francisco;
20º) Seja quem for o governador da Bahia, terá que entregar, sob o patrocínio do comando da Região Militar desse Estado, a direção político-administrativa dos municípios de Remanso, Casa Nova e Xiquexique aos revolucionários seus atuais ocupantes e dirigentes, que terão como seu representante político o Coronel Anfilófio Castelo Branco;
30º) Apesar de ser unânime o Município de Santa Rita do Rio Preto ao lado do Coronel Abílio Rodrigues de Araújo, ficará, para qualquer governo, este chefe revolucionário como responsável pelos destinos políticos daquele município;
40º) Não poderão voltar às respectivas localidades as autoridades depostas e pessoas outras expulsas pelos revolucionários, a bem da paz e tranqüilidade futuras da zona do S. Francisco;
50º) Fornecerá a região militar da Bahia todas as garantias necessárias para o Dr. Cordeiro de Miranda ir à capital do Estado.
Em compensação, os chefes revolucionários obrigam-se a:


1º) Paralisar completamente o movimento revolucionário da zona do S. Francisco;
2º) Fazer voltar aos seus lares, para o seu trabalho cotidiano, os seus amigos que compõem o exército libertador da zona do S. Francisco;
3º) Entregar aos emissários do general comandante da região todos os vapores da Empresa Fluvial do S. Francisco, que se acham aprisionados pelos revolucionários, com o respectivo carregamento, segundo o manifesto assinado pelo comandante de cada navio;
4º) Acatar e respeitar o futuro governo da Bahia, vendo nele a pessoa do Presidente da República, representada pelo General Cardoso de Aguiar, muito digno Interventor Federal no Estado da Bahia.
Remanso, 3 de março de 1920.

Manifesto assinado por:
Pelo Município de Remanso, Anfilófio Castelo Branco - pelo Município de Casa Nova, Lindolfo de Sousa Estrela - pelo Município de Xiquexique, B. Rosalvo Teixeira da Rocha - pelo Município de Santa Rita do Rio Preto, Abílio Rodrigues de Araújo - pelo General Comandante da Região Militar, Capitão Moisés Alves da Silva, Primeiro-Tenente Alexandrino da Luz.”

Retirado do site: http://franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=governo-assina-acordo-de-paz-com-coroneis-da-bahia-1920

domingo, 31 de julho de 2011

Voto de Cabresto

       Video que mostra de forma direta a história do coronelismo e o voto de cabresto que ocorria no Brasil no final século XIX. Na verdade esse voto de cabresto ainda ocorre em todos os estados brasileiros, isso explica a falta de alternância no poder e a permanência na política dos velhos políticos profissionais, dos velhos coronéis da oligarquia que a cada dia permanece mais forte na nossa política. O toma lá da cá é coisa constante nas eleições, políticos que troca favores e mercadorias em troca do voto do povo.
       Esse vídeo foi editado e estrelado pelos alunos da turma 203 da Escola Moura e Cunha do município de Guaíba -RS, no ano de 2010.

domingo, 24 de julho de 2011

Reedição do Livro Horácio de Matos, sua vida e suas lutas

Reedição do livro Horácio de Matos de Olympio Barbosa


        A reedição do livro “Horácio de Mattos – Sua vida e suas lutas”, de Olympio Barbosa, foi lançada em novembro, na Assembléia Legislativa, com a presença de familiares, admiradores do antigo coronel do sertão, sendo maciça a presença de autoridades, como secretários de estado, desembargadores, dirigentes de órgãos públicos, empresários, prefeitos da Chapada Diamantina, reitores e conselheiros dos tribunais de Contas do Estado e dos Municípios. Também presentes os representantes dos comandos militares baseados na Bahia e da secretaria Municipal de Educação, além de dezenas de deputados estaduais.
       Reverenciavam não só o coronel biografado, mas o seu neto, o ex-deputado Horácio Matos Neto, falecido este ano e principal entusiasta da obra, publicada originalmente em 1956. Cerca de 400 pessoas lotaram o saguão Nestor Duarte da Assembléia Legislativa para a solenidade que só acabou (a fila para os autógrafos) às 20h10, esgotando-se rapidamente os 500 volumes separados para o ato de lançamento. Na abertura do evento foi lido pelo mestre de cerimônias, Humberto Pinheiro, um breve histórico do biografado e dada a palavra a Heraldo Barbosa Filho, neto do autor, que destacou que o avô "fez questão de escrever com lisura a história de Horácio Mattos, de quem foi muito próximo."

FAMÍLIAS
       Heraldo Barbosa Filho, juntamente com o ex-deputado Horácio Matos Júnior, filho do biografado, autografou o livro em nome de seus familiares. As famílias Matos e Barbosa, as duas com raízes na Chapada Diamantina, estiveram em massa na solenidade, através de filhos, netos, primos, sobrinhos e parentescos intricados. Destaque para a presença também de Tácio Matos, ex-prefeito de Mucugê, e também filho do lendário coronel chapadista.
       O pronunciamento mais longo foi da filha de Horácio Neto, Tatiana, que fez um painel sobre os três protagonistas de "126 anos da era Horácio": "Meu bisavô, precursor, líder guerreiro, chefe político, coronel, servidor; o avô aqui presente, forte, valente, resistente às adversidades e resignado aos desígnios divinos, ex-deputado estadual e federal, conselheiro do Tribunal de Contas; meu pai, idealista, sonhador, generoso, leal, gregário, deputado estadual, falecido em 7 de julho". Durante a sua fala, Tatiana teve de controlar a emoção repetidas vezes, a exemplo de quando lembrou a obstinação do pai em publicar "todos os livros, poemas e cordéis que tratassem da história da sua família e da Chapada Diamantina."
       Ela aproveitou para pedir ajuda àquela região, que vem sendo consumida pelo fogo, "com uma das maiores queimadas que sofremos". Mostrando que as guerras entre as famílias locais só cabem nas páginas da história, ela clamou pelo trabalho dos brigadistas, "sejam eles Matos, Miranda, Medrado, Sá, Queiroz, Silva ou Militão". Horácio Júnior usou da palavra para fazer fervorosa oração por aqueles que partiram e os que continuam neste "mundo de expiações e resgate."
       O evento começou sem a presença do presidente da Assembléia, deputado Marcelo Nilo, que estava no Cemitério Bosque da Paz, num sepultamento. Mesmo assim, ele fez questão de chegar a tempo de falar naquele "momento especial". Ele ressaltou que Horácio de Mattos – Sua vida e suas lutas é o décimo livro publicado pela AL, num esforço para resguardar a memória da Bahia. Nilo anunciou que, até dezembro, outros 15 exemplares serão lançados e contou um pouco sobre esse trabalho, iniciado pelo ex-presidente Clóvis Ferraz, de editar e reeditar obras que falem sobre a cultura e a história do estado.

O LIVRO
       Jornalista, advogado e ex-deputado estadual, Olympio Barbosa foi testemunha dos fatos que narra. Ele conta detalhes da trajetória de Horácio, desde o início, na antiga Chapada Velha, distrito de Brotas de Macaúbas, até se tornar o homem mais poderoso de toda a Chapada Diamantina e o coronel regional mais prestigiado do estado. "Foi comerciante, delegado regional, intendente de Lençóis, proclamado senador e sempre coronel, pois chefe político no interior da Bahia", sintetizou a bisneta Tatiana.
       Depois de construir um império à frente de um verdadeiro exército, tendo chegado a combater a Coluna Prestes com o batalhão das Lavras Diamantinas, Mattos passou para a história ao optar pela solução pacífica e promover, com seu prestígio, o desarmamento do sertão, na década de 30 do século passado. Foi preso em Salvador e, ao ser solto, foi assassinado pelas costas, crime até hoje nebuloso.
      O lançamento reuniu no saguão Nestor Duarte muitos amigos do saudoso deputado Horácio Matos Neto, seguramente um dos mais populares que já integraram a Assembléia Legislativa, além de familiares e autoridades do Estado da Bahia. 

Coronelismo na Literatura Brasileira

       Como não poderia deixar de ser, a literatura brasileira foi pródiga nesse século em abrigar as façanhas e malvadezas dos coronéis. O mundo rural, violento e rústico, onde eles se moviam e se sentiam reis, mereceu copiosas descrições, e os "causos" em que eles foram participantes ativos viraram contos ou histórias dos romancistas e dos roteiristas das telenovelas brasileiras, quando não, os próprios coronéis tornaram-se personagens centrais da obra. É o caso do personagem central do romance "São Bernardo", obra clássica do escritor alagoano Graciliano Ramos, ou ainda o do "O Coronel e o Lobisomem" de José Cândido de Carvalho. Notáveis descrições do cenário em que eles viveram e lutaram, encontram-se no "Os Sertões" de Euclides da Cunha, e também no "Grande Sertões Veredas" de Guimarães Rosa. Numa situação onde o autor assume a identidade do coronel para registrar-lhes as impressões, encontra-se no "Memórias do Coronel Falcão", de Aureliano Figueiredo Pinto. O maior dos escritores brasileiros, Jorge Amado, abordou o tema coronelismo em todas as suas facetas nos seus romances do chamado ciclo do cacau, "São Jorge dos Ilhéus", "Cacau", e do mais conhecido deles, "Gabriela Cravo e Canela".
       Outro escritor, esse baiano, que escreveu sobre o tema com grande propriedade, foi  Walfrido Moraes com o seu "Jagunços e Heróis", onde ele fala da vida e das lutas do coronel Horácio de Matos, o autor  conheceu quando criança o coronel e foi tipógrafo mirim do seu jornal. Outro escritor que fala do coronel Horácio é Olympio Barbosa em "Horácio de Matos, Sua vida e suas lutas". O tema coronelismo é instigante e o mistério que ronda o tema, vai dar origem a outros livros, a outros filmes, que vão tentar nos mostrar um pouco mais sobre as histórias de lutas e de amor desses sertanejos que eram antes de tudo, "fortes".

terça-feira, 12 de julho de 2011

Horácio de Matos

Coronel Horácio de Matos


       Coronel Horácio de Matos, homem forte na política baiana, foi nomeado Delegado Regional da Zona Centro-Oeste que englobava os municípios de Lencóis, Palmeiras, Seabra, Barra do Mendes, Brotas de Macaúbas, Paramirim, Bom Sucesso, Wagner, Macaúbas e Piatã. Foi também intendente em Lencóis e Senador Estadual, e quando da penetração da Coluna Prestes na Bahia, recebeu ordens do então presidente Artur Bernardes para formar um batalhão e combater os revoltosos. Horácio cria o Batalhão Patriótico Lavras Diamantina e persegue Prestes e os revoltosos até as divisas da Bolívia.




quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Chapada Diamantina

Mapa da Chapada Diamanina


       Região de serras, a Chapada Diamantina está situada no coração do Estado da Bahia, onde nascem quase todos os rio das bacias do Paraguaçú, do Jacuípe e do Rio de Contas. As correntes de águas brotam nos cumes e deslizam pelo relevo em belos regatos, despencam em borbulhantes cachoeiras e formam transparentes piscinas naturais.
       A vegetação  exuberante é composta de espécies da caatinga semi-árida e da flora serrana, com destaque para as bromélias, orquídeas e sempre-vivas. São tantas as atrações da Chapada Diamantina que se pode optar entre visitar grutas, tomar banho de cachoeira, fazer trekking em antigas trilhas de garimpeiros, montar a cavalo ou praticar esportes de aventuras.
       Caminhar respirando o ar puro e admirando as paisagens é a principal opção dos turistas de todas as partes que visitam a Chapada. Os lugares mais verdejantes sempre guardam uma surpresa com águas cristalinas ou areias coloridas. Belos morros, flores e hortaliças que encantam pela beleza e viço. O  ponto mais alto do Nordeste está na Chapada: o Pico do Barbado com 2.033 metros que se localiza no distrito de Catolés de Cima no município de Abaíra.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Coronel Militão Rodrigues Coelho

Coronel Militão Rodrigues Coelho

Coronel Militão Rodrigues Coelho

       Coronel Militão Rodrigues Coelho nasceu no povoado de Jordão, Brotas de Macaúbas, (atual município de Ipupiara) em  20 de Outubro de 1859 e morreu em Pilão Arcado em 08 de Novembro de 1919. Foi um político e coronel do sertão baiano e principal adversário da família Matos. Filho de Manuel Rodrigues Coelho e Norberta Olímpia Sodré Coelho, seu pai foi assassinado possivelmente por algum escravo.
       Foi casado com Maria Barreto Coelho, com quem teve cinco filhos, enviuvando, casou-se com Maria da Glória Sodré Coelho, com quem teve mais oito filhos. Dos treze filhos destacaram-se Adelino Rodrigues Coelho que foi intendente e Nestor Rodrigues Coelho, que foi prefeito de Brotas de Macaúbas.
       Militão contava com muito prestígio junto ao governador Antonio Moniz e conseguiu a emancipação de Barra do Mendes em 1917. Esse fato vai desencadear a inimizade com a famíli Matos. Horácio não vai aceitar a vitória de Militão e auxiliado pelo coronel João Arcanjo e seus jagunços, organiza uma investida sobre a próspera Barra do Mendes em 07 de janeiro de 1919. Militão resiste bravamente, mas os jagunços chefiados por Horácio de Matos usam de terror e muita violência, saqueando e incendiando casas e plantações. As famílias ficaram trancadas em casa com fome e sede e quem ousasse sair de casa para fugir ou tentar buscar alimentos e água, era abatida a tiros.
      Sem comida e sem água, Militão, aconselhado por José Joaquim Sodré, vulgo Zeca Sodré, aceita as condições impostas por Horácio, e se rende. Militão é expulso da cidade e acaba os seus dias abrigado na casa do coronel Franklin Lins de Alburqueque em Pilão Arcado. Militão, triste e ferido, morreu de saudade da sua terra querida. 

domingo, 3 de julho de 2011

Horácio de Matos, o Coronel que derrotou a Coluna Prestes

Oficiais de Estado Maior do Batalhão Patriótico "Lavras Diamantinas", que marchou sobre a Coluna Prestes, varando os sertões brasileiros até os limites com a Bolívia. Comandante em Chefe, coronel Horácio de Matos (sentado), e, de pé, os capitães Ezequiel de Queiróz Matos, Francisco Costa e Franklin de Queiróz.



A Coluna prestes cortava o Brasil, numa desvairada tentativa de arregimentar as massas camponesas para a causa da derrubada do governo de Artur Bernardes, percorreu 36 mil quilômetros, pelo país.
Sob o comando de Luiz Carlos Prestes, ex-integrante do tenentismo convertido ao comunismo, a Coluna cometeu um erro ao passar pela Bahia: matou dois parentes de Horácio de Matos.
Prestes tenta aliciar o coronel, mas este já organizara sob o patrocínio do Governo Federal, O Batalhão Patriótico "Lavras Diamantinas", os antigos jagunços eram agora homens de farda. Horácio era o comandante-em-chefe do Batalhão e sua campanha foi registrada em diário de campanha pelo Capitão-ajudante Franklin de Queiróz.
Tem início assim, a maior perseguição que a história brasileira já registrou. Horácio e seu Batalhão provocaram várias derrotas à Coluna, forçando-a a deixar o Brasil e penetrar as terras bolivianas, em fevereiro de 1927, sob o comando do tenente Procópio Sabino Diamantino. O coronel e todo Batalhão foi recebido depois como heróis por toda a Chapada Diamantina.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Chapada Diamantina - Bahia

   Palco de várias lutas pelo poder da região. Horácio de Matos, Manuel Fabrício, Douca Medrado, Militão Rodrigues Coelho, Felisberto Augusto de Sá, Heliodório de Paula Ribeiro, são alguns dos coronéis que fizeram das paisagens da Chapada, palco para suas lutas.
   Veja algumas paisagens dessa região que é uma das mais bonitas do Brasil e do mundo, a nossa querida Chapada Diamantina.

Coronelismo e o voto - Quem disse que não existem mais coronéis na política brasileira?


Este vídeo é a maior prova que o poder dos coronéis está mais presente do que nunca na política brasileira. Políticos que usam e abusam dos seus poderes para amedrontar a população e fazer valer a sua autoridade. Voto de cabresto ainda é realidade na nossa sociedade, ele explica a perpetuação de alguns políticos nos diversos cargos eletivos.

Coronelismo na Chapada


Documentário selecionado para a Jornada Internacional de Vídeos - Coronelismo na Chapada
Vale a pena assistir

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Coronel Manuel Fabrício de Oliveira (14/05/1854 a 20/07/1939)

Coronel Manuel Fabrício de Oliveira (14/05/1854 a 20/07/1939)


Manuel Fabrício de Oliveira nasceu em 14 de maio de 1854 e morreu em  20 de julho de 1939.
O coronel Manuel Fabrício foi um político brasileiro, chefe político do hoje inexistente município baiano de Campestre, tendo se envolvido nas lutas contra o coronel Horácio de Matos pelo domínio do poder político da Chapada Diamantina.
Nasceu em Campestre, hoje distrito de Seabra,  filho de Fabrício José de Oliveira e  de Ana Nervilha de Oliveira (D. Biosa). Casou com  D. Dursolina Honória em 1883, com quem teve vários filhos .
Politicamente, aliou-se ao governador José Joaquim Seabra, chefiando o PRD em Campestre até 1920. Era chefe de um grande bando de jagunços (cerca de 200 homens), com os quais sustentava as disputas com os membros da família Matos e outros tantos adversários.
Em Campestre sustentou a defesa de suas posições em quatro ataques armados, sendo finalmente derrotado pelo coronel Horácio de Matos. No Convênio de Lençóis, em 1920 uma das suas cláusulas, era a exigência da retirada do coronel Manuel Fabrício da cidade que, então, deixou de existir, passando a distrito de Seabra. Exerceu funções estaduais em diversas localidades, morrendo no mesmo ano que a esposa, no povoado de Itaíba, em Itaberaba.
“Tendo sido a luta de Campestre a primeira grande prova de fogo de Horácio de Matos, ainda tão jovem, enfrentou e saiu vitoriosamente fortalecido, ela foi, igualmente, a última em que o famoso coronel Manuel Fabrício de Oliveira se empenhou tão duramente, representando, ademais, o crepúsculo melancólico de sua longa carreira de régulo de aldeia, valente e destemido e, até então, imbatível”. (WALFRIDO MORAES – JAGUNÇOS E HERÓIS)

MORAES, Walfrido. Jagunços e Heróis: a Civilização do Diamante nas lavras da Bahia/ Walfrido Moraes. – 3ª ed. Revisada e ampliada- Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1984.
MENDONÇA, Edízio. Campestre e seus Horrores, EGBA, Salvador, 2006, PP. 95-97