sábado, 23 de junho de 2012

O coronelismo


   


   O coronelismo foi uma experiência típica dos primeiros anos da república brasileira. De fato, essa experiência faz parte de um processo de longa duração que envolve aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais do Brasil. A construção de uma sociedade vinculada com bases na produção agrícola latifundiária, desde os tempos da colônia, poderia contar como um dos fatos históricos responsáveis pelo aparecimento do chamado “coronel”. 
  No período regencial, a incidência de levantes e revoltas contra a nova ordem política instituída concedeu uma ampliação de poderes nas mãos dos proprietários de terra. A criação da Guarda Nacional buscou reformular os quadros militares do país através da exclusão de soldados e oficiais que não fossem fiéis ao império. Os grandes proprietários recebiam a patente de coronel para assim recrutarem pessoas que fossem alinhadas ao interesse do governo e das elites. 
   Com o fim da República da Espada, as oligarquias agro-exportadoras do Brasil ganharam mais espaço nas instituições políticas da nação. Dessa maneira, o jogo de interesses envolvendo os grandes proprietários e a manutenção da ordem social ganhava maior relevância. Os pilares da exclusão política e o controle dos grandes espaços de representação política sustentavam-se na ação dos coronéis. 
   Na esfera local, os coronéis utilizavam das forças policias para a manutenção da ordem. Além disso, essas mesmas milícias atendiam aos seus interesses particulares. Em uma sociedade em que o espaço rural era o grande palco das decisões políticas, o controle das polícias fazia do coronel uma autoridade quase inquestionável. Durantes as eleições, os favores e ameaças tornavam-se instrumentos de retaliação da democracia no país. 
   Qualquer pessoa que se negasse a votar no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou perseguição pessoal. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos se consolidassem no poder. Com isso, os processos eleitorais no início da era republicana eram sinônimos de corrupção e conflito. O controle do processo eleitoral por meio de tais práticas ficou conhecido como “voto de cabresto”. 
  Essa falta de autonomia política integrava uns processos onde deputados, governadores e presidentes se perpetuavam em seus cargos. Os hábitos políticos dessa época como a chamada “política dos governadores” e a política do “café-com-leite” só poderiam ser possíveis por meio da ação coronelista. Mesmo agindo de forma hegemônica na República Oligárquica, o coronelismo tornou-se um traço da cultura política que perdeu espaço com a modernização dos espaços urbanos e a ascensão de novos grupos sociais, na década de 1920 e 1930. 
   Apesar do desaparecimento dos coronéis, podemos constatar que algumas de suas práticas se fazem presentes na cultura política do nosso país. A troca de favores entre chefes de partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como o poder econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes políticos.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

2 comentários:

  1. Oi Wagner.
    Meu nome é Jucélia e moro em Ibicoara. Também sou professora, pedagoga e atualmente faço graduação em história na Uesb. Encontrei seu blog, fazendo pesquisa no Google e o achei interessantíssimo. Minha empolgação é por outra coincidência, estou começando meu projeto de pesquisa e quero pesquisar o coronelismo na Chapada Diamantina. Acho que existe ainda poucos estudos sobre a temática e queria saber se vc pode me indicar uma referencia específica sobre o tema?

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  2. Oi Jucélia, que bom saber que você também gosta da temática e que quer se adentrar nesse mundo maravilhoso e tão instigante que é o tema coronelismo. Para mim, não se pode estudar nem pesquisar sobre os coronéis da Chapada Diamantina sem ler o livro de Walfrido Moraes, Jagunços e Heróis. Este livro é de fundamental importância para se entender o que de fato foi esse fenômeno aqui na Chapada Diamantina. Envio algumas referências que vão tea ajudar e muito na sua pesquisa.
    BANDEIRA, Renato Luís Sapucaia. Chapada Diamantina, História, Riquezas e Encantos. Salvador: Onavilis Editora, 1998.

    CARONE, Edgard. O tenentismo. São Paulo: Ed. Difel, 1975.

    CHAGAS, Américo . O chefe Horácio de Matos. Salvador: EGBA, 1996.

    http://coronelismonachapada.blogspot.com. Acesso em 08/Outubro, 2011.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Oligarquia. Acesso em 12/Outubro,2011.

    MENDONÇA, Edízio. Campestre e seus horrores, EGBA, Salvador, 2006.

    MORAIS, Walfrido. Jagunços e Heróis – A Civilização do Diamante nas Lavras Diamantina da Bahia. Civilização Brasileira, 1963.

    MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes – marchas e combates. 3ª ed. São Paulo: Ed. Alfa-Omega, 1979.

    PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a Coluna Prestes. São Paulo:Ed.Moderna, 1995.

    PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes. 4ª ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1997.

    QUEIRÓS, Claudionor de Oliveira. O Sertão que eu conheci. 2 ed. Salvador: ALBA, 1998.

    SAMPAIO, Teodoro Fernandes. O Rio São Francisco e a Chapada Diamantina. Cia. Das Letras. São Paulo, 2002. ISBN 85-359-0256-2


    Usei essas referências no meu Artigo Científico sobre o tema.

    Espero ter ajudado. Obrigado por ter viajado em meu blog.

    Um abraço.

    WAGNER

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