Coronelismo
e Messianismo
Em 1934 morria em Juazeiro do Norte
um "messias", também perseguido pela Igreja Católica, porém, ao
contrário de Antonio Conselheiro, o Padre Cícero Romão Batista era um aliado
dos coronéis do Vale do Cariri, que a partir de 1912 lutaram contra a política de
intervenções do governo federal e derrubaram o governador Franco Rabelo.
Padre Cícero Romão Batista
O MESSIANISMO
Considera-se como movimento messiânico, aquele que é
comandado por um líder espiritual, um "messias", que a partir de suas
pregações religiosas passa a arregimentar um grande número de fiéis, numa nova
forma de organização popular, que foge as regras tradicionais e por isso é
vista como uma ameaça a ordem constituída.
Esses movimentos tiveram importância
em diversas regiões do país; no interior da Bahia, liderado pelo Conselheiro,
em Juazeiro no Ceará, liderado pelo Padre Cícero, no interior de Santa Catarina
e Paraná, liderado pelo beato João Maria e novamente no Ceará, sob comando do
beato José Lourenço; somente foi possível devido a algumas condições objetivas
como a concentração fundiária, a miséria dos camponeses e a prática do
coronelismo, e por condições subjetivas como a forte religiosidade popular e a
ignorância. Os grandes grupos sociais que acreditaram nos messias e os
seguiram, procuravam satisfazer suas necessidades espirituais e ao mesmo tempo
materiais.
O CONFLITO NO CEARÁ
A Guerra que tomou conta do Ceará entre dezembro de
1913 e março do ano seguinte refletiu a situação da política interna do país,
caracterizada pela disputa das oligarquias pelo poder. A vida política
brasileira era marcada pelo predomínio de poucas famílias no comando dos
estados; as oligarquias utilizavam-se da prática do coronelismo para manter o
poder político e econômico.
No início de 1912, a "Política
de Salvações" do presidente Hermes da Fonseca atingiu o Ceará. A prática
intervencionista acompanhada de um discurso moralizador serviu para derrubar a
governador Nogueira Acciolly, representante das oligarquias tradicionais do
estado, em especial da região do Cariri, no poder a quase 25 anos.
Em abril do mesmo ano, foi eleito o coronel Franco
Rabelo como novo governador do Ceará, representando os grupos intervencionistas
e os interesses dos comerciantes. Rabelo procurou diminuir a interferência do
governo federal no estado e demitiu o prefeito de Juazeiro do Norte, o Padre Cícero.
Padre Cícero e a sedição de Juazeiro
O conflito envolveu, de
um lado, o novo governador eleito, Franco Rabelo e as tropas legalistas, e de
outro as tropas de jagunços comandadas por Floro Bartolomeu, apoiadas pelo
padre Cícero e pelos coronéis da região do Cariri, contando ainda com o apoio
do senador Pinheiro Machado (RS), desde a capital.
O movimento armado iniciou-se em 9 de
dezembro de 1913, quando os jagunços invadiram o quartel da força pública e
tomaram as armas. Nos dias que se seguiram à população da cidade organizou-se e
armou-se, construindo uma grande vala ao redor da cidade, como forma de evitar
uma possível invasão. A reação do governo federal demorou alguns dias,
com o deslocamento de tropas da capital, que se somariam aos soldados
legalistas no Crato. Apesar de estarem em maior número e melhor armados, não
conheciam a região e nem as posições dos jagunços e por isso a primeira
investida em direção a Juazeiro foi um grande fracasso, responsável por abater
os ânimos dos soldados. Os reforços demoraram a chegar e as condições do
tempo dificultaram as ações para um segundo ataque, realizado somente em 22 de
janeiro e que não teve melhor sorte do que o anterior. Com novo fracasso, parte
das tropas se retirou da região, possibilitando que os jagunços e remeiros
invadissem e saqueassem as cidades da região, a começar pelo Crato,
completamente desguarnecida. Os saques tinham por objetivo obter armas e
alimentos e foram caracterizados por grande violência.
A última investida
legalista ocorreu em fevereiro sob o comando de José da Penha, que acabou morto
em combate.
A partir de então, Floro Bartolomeu começa a organizar uma
grande tropa de jagunços com o objetivo de ocupar a capital Fortaleza. Durante
os primeiros dias de março, os jagunços ocuparam diversas cidades e as estradas
do interior e se aproximavam da capital, forçando Franco Rabelo à renúncia no
dia 14 de março.
Dessa maneira, terminava a Política
das Salvações e a família Acciolly retomava o poder. Floro Bartolomeu foi
eleito deputado estadual e posteriormente deputado federal. A influência
política do Padre Cícero manteve-se forte até o final da República Velha.
Morte do padre Cícero no dia 20 de julho de 1934